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As frustrações do Covid

por O mar de Espinho, em 22.06.20

Fugindo um pouco das minhas habituais crónicas, hoje venho escrever sobre o "em nome de". Não, não é uma crónica sobre a canção Killing In The Name Of dos RATM.

Tenho vindo a fartar-me de cada vez mais notícias de destruição de património em nome do racismo, xenofobia e mais alguma coisa que se lembrem.

Eu sei que muitas destas atitudes têm como fonte as frustrações acumuladas pelas pessoas em tempos de Covid- confinamento, quebra de rendimento, perda de emprego, falta de paciência e muito mais, mas caramba.
Parece que estamos cada vez mais numa sociedade de “não concordas comigo… estás feito”.

Em relação ao racismo dentro de portas, antes de mais entenda-se de uma vez por todas- não há portugueses “puros”. Não temos de tratar ninguém de forma diferente pela cor da sua pele- atenção que só me meto de vez em quando com a Joacine, apenas porque a senhora, para mim, é parva; mas também o é o menino André.

Isto começou por ser, desde que a história se lembra um território chamado de Lusitânia- território que ia desde o rio Tejo até à costa cantábrica. Depois vieram os Romanos, mais tarde Viriato que lhe fez guerra e sai derrotado. Depois o Império Romano estabelece-se, desagrega-se e vêm para cá os mouros- eram para ter sido iranianos, mas vieram os visigodos. A seguir vem um conde do norte da Europa que casa com uma espanhola, têm um filho que se chateia com a mãe e daí à “independência” é um salto- lá foi ele e os seus descendentes, contra os mouros que por cá andavam (racistas).
Hoje temos uma sociedade que nos seus traços físicos tem evidências vindas do norte de África e do norte da Europa, para não falar do Centro e Sul. Também há quem ainda possua traços físicos oriundos de África e América do Sul. Caramba, eramos a verdadeira sociedade global e não sabíamos e agora queremo-nos revoltar contra as nossas origens? Tenham dó.

Este fenómeno tem tido o seu expoente máximo nos Estados Unidos, onde após a morte às mãos da polícia de um senhor negro, explodiu.

Não vou teorizar sobre a morte em si do senhor, mas sim sobre uma das consequências desta situação que é a destruição massiva de património, nos Estados Unidos e na Europa, em nome do racismo. Parecido com aqueles senhores no Afeganistão que destruíram massivamente património em nome do racismo (religioso) e que despoletou uma guerra de uma coligação de países liderados pelos… (rufem os tambores), Estados Unidos (aqueles talibans eram uns malandros).

Como alguém já disse algures, vamos agora destruir as pirâmides do Egipto, só porque foram construídas pelos judeus, escravizados pelos egípcios por serem um povo inferior. Ahh não que afinal foram eles que “fundaram” a finança.
Vamos destruir Petra só porque quem construiu foram os árabes nabateus e agora descobrimos que estes, afinal eram uns malandros da pior espécie? Ah, mas esperem aí- a cidade é linda e é cor de rosa e dá umas fotos fantásticas no Instagram.

Contexto gente, contexto. A História dá-se no contexto de determinados acontecimentos. Deixem lá o património- bom ou mau, serve de memória. Os campos de concentração foram preservados para memória- um exemplo do que jamais pode voltar a acontecer. Não podemos destruir património, só porque hoje não agrada, mas amanhã pode.

Deixem lá a estátua do Theodore Roosevelt em paz.

Tenho um amigo que uma vez teve uma expressão "deliciosa" sobre o estado do nosso país, no contexto da última  intervenção do FMI, que era "Portugal podia ser um país fantástico; se em vez de portugueses, tivesse suecos." Eu hoje digo que tinhamos um mundo fantástico, se vivessemos no mundo das redes sociais.

Ontem ouvi o antigo presidente Barack Obama referir a propósito do ativismo, que hoje ao limitamo-nos a escrever os 280 caracteres no Twitter, não estamos a fazer mais do que a atirar umas pedras a algo. Escrevemos, mandamos a bujarda e sentimo-nos bem connosco próprios. E depois temos muitos likes- ahhh é um orgasmo mental; somos os maiores. O ativismo não é isto- é pensar, discutir, encontrar soluções em conjunto para um problema comum, colaborar. Mas não. O que fazemos é apenas escrever e dizer que, sou eu que tenho razão. Ler, colocar likes e ir atrás- sociedade "carneiristíca".  Espera aí; será que é o que estou a fazer?

 

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publicado às 16:46



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