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Análise do quotidiano, da nossa vida, dos nossos dias, da actualidade e afins... sem filtros e sem preconceitos. Um destes dias iremos ter receitas também...E frase do dia e essas coisas...
Um dos meus desportos preferidos, desde sempre, é a observação d comportamentos.
Sempre que estou num café, restaurante, numa sala de espera ou quando ando de metro gosto muito de observar a fauna e flora dos locais (será uma tara voyeurista?) em vez de afundar no ecran do telemóvel...
Um destes dias fui à baixa de metro. Já não andava desde que a pandemia iniciou... e que regalo foi.
Numa das estações depois de Rio Tinto (aquelas que servem aqueles campos de cultivo) entraram dois comparsas que tiveram este diálogo:
"- Esta gera que está toda indiguenada com aquela merda que fizeram ao Ferro Rodrigues, (e benhe, que o home tambenhe tem direito), também se indiguenou quando fizeram o mesmo ao Passus Cuelho quando a mulher estaba cum cancro?" (mais uns palavrões a fazer de virgula...)
"-Era o que faltaba, caral#%... Quéque u cu tem a ber com as calças? A mulher du Passus nunca tebe uma boa cor e o gaijo foi o culpado de quase tudo que se passou nos últimos 50 anos ou mais... Tem as costas largas... Ainda o boum buscar outra bez..."
Priceless...
O país real ao vivo e a cores...
Indignado.
É assim que me sinto.
Num país onde a capital vive em pequenas bolhas e onde nas principais metrópoles é norma a indignação, resolvi aderir a esta nova moda e indignar-me.
Desconheço se temos de ir a algum guichet fazer a inscrição ou então ir a alguma rede social para poder intitular-me um "indignado" encartado...
E porque é que me indignei, deverão estar a perguntar (isto se ainda estiverem a flagelar os olhos a ler isto...)?
Indignei-me porque no espaço de uma semana a televisão e o governo mataram a minha ilusão de pertencer à classe média.
Senão vejamos: no inicio da semana o Miguel Sousa Tavares declarou que qualquer recém-licenciado começa a sua vida laboral a ganhar 2700€... 2700€!! Eu que já ando nestas lides há já algumas primaveras, que supostamente ganhava bem por pertencer a uma empresa grande e que tenho formação superior, nem de perto (quanto mais de longe) chega à conta no final do mês 2700€...2700€.
Eu sei que em certas elites e substratos da capital é usual começaram por baixo... por 2700€...2700€... mas no país real não...
Por norma sou um tipo optimista e tento ver que qualquer adversidade poderia ser pior... Posso não ter como salário base 2700€ mas o puto anda num colégio privado... "Devo ser da classe média ainda", pensei eu, e fiquei aliviado... Todos os anos são 4400€ de propina a que se junta o preço dos livros que não são de borla... Lá se vão €4700... Podia ser pior...
Ainda me estava a refazer deste estilhaço na minha auto-estima quando vi a entrevista que o Ministro da Educação deu à Lusa... Então não é que o xôr ministro disse (sem se rir) que cada aluno representa um custo anual de 6200€ ????... Os alunos das escolas publicas ficam mais caros que os do privado...
Foi a machadada final na minha ténue esperança de ser da classe média pois mesmo que, com os meus impostos dê 500€ para o Ministério da Educação, mesmo assim fico com uma diferença de 1000€ (4700+500=5200-6200=1000).
Definitiva e oficialmente faço parte dos remediados deste país... E por isso indignei-me. Pode ser que ganhe alguma coisa com isso...
Mas podia ser pior...
Os tipos que têm os miúdos no Rosário ou no Efanor da Sonae pagam €5200 de propina anual e pensam que lá é que é bom... Não é... Todos gostamos do mais caro...
Amigos, os putos da C+S de Alguidar de Baixo custam 6200€...
Pumbas choninhas...
Lucília Monteiro
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